Nome
comum: Pato-real
Nome científico: Anas platyrhynchos L.
Outras designações: adem, pato-ganso, condal,
cabeça-azul, lavanco, mancão
Peso: macho 859 – 1572 gramas; fêmea 750 – 1140
gramas
Comprimento: 50 – 65 cm
Fenologia: Residente (invernante)
Esta
espécie pode ser encontrada na América Central e do
Norte, na Europa, na Ásia, no Norte de África e mesmo na
Austrália e Nova Zelândia onde foi introduzida. Na
Europa, à excepção da Escandinávia onde apenas nidifica,
é residente, embora alguns indivíduos migrem (fenómeno
mais frequente para Norte e Este do Continente).
As populações ibéricas não fogem a este padrão, e embora
o carácter residente seja bastante acentuado, acorrem à
península algumas populações migradoras não ibéricas.
Esta ave encontra-se uniformemente distribuída pelo
território continental português, sendo as zonas de
maior concentração o estuário do Tejo e Sado, o Paul de
Boquilobo, a Pateira de S. Jacinto, a Ria de Aveiro e a
Quinta do Taipal (em Montemor-o-Velho).
A íris é castanho-escura, o bico verde-amarelado no
macho adulto e no imaturo (empalidecendo em fase de
eclipse) com a unha negra, enquanto na fêmea (adulta e
imatura) é alaranjado com a mandíbula superior
praticamente toda escura (ou apresentando dos lados, uma
zona alaranjada de tamanho variável). No macho juvenil o
bico é verde-pálido enquanto na fêmea juvenil denota um
tom laranja pálido com marcas mais escuras. Os pés são
laranja-avermelhados nos adultos e nos imaturos e
rosados amarelados nos juvenis.
Em plumagem nupcial, os machos adultos têm a cabeça e
pescoço de um verde metálico, com reflexos azulados,
terminando num estreito colar branco. O peito e a parte
superior do abdómen são castanho-chocolate, enquanto os
flancos e a restante área abdominal são
branco-acinzentadas. As coberturas infra-alares são
brancas e as infracaudais negras. Manto
cinzento-acastanhado e as escapulares cinzentas. O
dorso, uropígio e coberturas supracaudais negras. A
cauda tem duas penas negras recurvadas. As rectrizes
externas são brancas. A asa é de uma tonalidade cinzenta
ou cinzenta-acastanhada dominante, contrastando com o
espelho azul-púrpura orlado a negro e branco.
A fêmea tem pescoço e cabeça castanha pálida com finas
listras negras e uma listra ocular. O peito, flancos e
abdómen são castanhos com diversas marcas negras. A zona
posterior do abdómen é mais clara. As coberturas
infracaudais são brancas. O manto, as escapulares e
coberturas supracaudais são acastanhadas. O dorso e
uropígio mais escuros. A cauda é acastanhada com as
rectrizes externas de tons esbranquiçados. As asas são
semelhantes às do macho, embora possuindo um espelho
mais estreito, uma tonalidade mais acastanhada e as
extremidades das coberturas terciárias brancas.
A plumagem estival/eclipse dos adultos faz com que o
macho, a fêmea e o juvenil se assemelhem,
distinguindo-se o macho pela cor verde-amarelada do
bico, pelo negro com reflexos esverdeados da coroa e
pelo castanho-ferrugem do peito. A fêmea tem plumagem
quase idêntica à nupcial, embora menos marcada e mais
pálida. Os juvenis são globalmente semelhantes às fêmeas
adultas, embora com características dos imaturos. O
macho juvenil vai-se tornando parecido com o adulto em
plumagem de eclipse.
Os imaturos são globalmente semelhantes aos adultos
distinguindo-se ao nível da 4ª, 5ª e 6ª grandes
coberturas secundárias pela existência na extremidade
destas, de uma reduzida mancha negra, mal definida e
arredondada, que não se prolonga pelos bordos da pena,
sendo a mesma estreita e ligeiramente pontiaguda (nos
adultos a mancha negra é alta, que não se prolonga pelos
bordos da pena, sendo esta estreita e arredondada na
ponta).
A partir de fins de Dezembro princípios de Janeiro, os
adultos começam a formar os casais, que depois de
formados se dispersam à procura de locais para se
reproduzirem (os juvenis começam a formar casais mais
tarde). Constróem o ninho no solo no meio da vegetação
em locais tranquilos, como por exemplo nos sapais e
pauís da foz dos grandes rios, nos grandes tanques de
aquicultura extensiva abandonados, nas zonas de salinas
(também elas abandonadas ou reconvertidas), por vezes em
situações bastante expostas e longe da água. A postura é
de 9 a 13 ovos de cor creme ou esverdeada. A incubação,
feita pela fêmea, dura 27 – 28 dias. As crias saem logo
ninho para se alimentar, pois são capazes de nadar desde
muito cedo. Os jovens são capazes de voar com 50 – 60
dias de idade, atingindo a maturidade sexual com 1 ano.
A taxa anual de sobrevivência dos adultos é de cerca de
52%, sendo mais baixa nas fêmeas possivelmente devido à
maior vulnerabilidade aos predadores durante a época de
reprodução. Durante a época venatória a taxa de
sobrevivência dos jovens é mais baixa (fenómeno mais
acentuado nos primeiros meses do calendário venatório).
Em voo, esta espécie é um pato grande e pesado, com asas
largas e compridas de batimento amplo (prolongando-se
bastante abaixo do plano do corpo), destacando-se o
espelho azul metálico de margens claras, o abdómen de
padrão mais ou menos uniforme e coberturas infra-alares
contrastando com as rémiges mais escuras e o ventre
acastanhado. O voo é directo. É uma espécie extremamente
vocal. Por ser um pato de grandes dimensões, é o que faz
mais barulho quando levanta ou pousa na água. Com o
avançar da estação fria, nota-se que estes se tornam
cada vez mais cautelosos, pousando apenas após terem
efectuado vários sobrevoos de reconhecimento.
Espécie omnívora, consumindo maior percentagem de
matéria vegetal no Outono/Inverno, e maior quantidade de
invertebrados na Primavera/Verão, podendo ainda ingerir
anfíbios e peixes.
É talvez a espécie que mais frequenta os campos
agrícolas (em especial os arrozais). Devido à grande
dimensão das suas populações, podem surgir conflitos
entre os agricultores e caçadores, pois os primeiros
acusam os patos de provocarem grandes perdas de produção
por consumo directo de arroz. Contudo, estudos recentes
demonstraram que o consumo de arroz por parte dos
anatídeos não tem efeito significativo na produção.
É uma ave extremamente versátil, podendo mesmo ocorrer
em regiões com períodos deficitários em água mais
prolongados, como é o caso do Alentejo, tirando partido
das searas de sequeiro, que constituem uma fonte de
alimento abundante. A sua elevada adaptabilidade
permite-lhe tirar o máximo proveito da área onde se
encontra, e mesmo em locais de pouca tranquilidade e
bastante expostos como os arrozais, pode permanecer
durante o dia abrigado na vegetação aquática existente
nos canais de drenagem.
É o anatídeo que demonstra, de forma mais óbvia,
movimentações circadianas entre as áreas de repouso e as
áreas de alimentação. Durante o período venatório, estes
movimentos parecem ser o resultado da perturbação
provocada pela caça e pelo facto dos locais de refúgio
não disponibilizarem alimento em quantidade e qualidade
suficiente, obrigando os patos a deslocarem-se para
zonas de alimentação.
A gestão de anatídeos no geral tem de ser bastante
cuidada no que toca às questões de locais de repouso, de
refúgio (especialmente durante a época de caça) e de
alimentação e no caso de populações residentes, os
locais de nidificação e muda (durante 4 semanas não
voam, pois estão a ser substituídas as rémiges
primárias).
Conjugado com a alimentação surge o problema do
saturnismo, resultante da ingestão de bagos de chumbo
juntamente com o material inerte do solo, que garantem o
normal funcionamento da moela. A acumulação de chumbo
aumenta a mortalidade (directa e indirecta) de grande
número de patos.
O chumbo ingerido sofre erosão mecânica e química,
entrando assim na circulação sanguínea, acumulando-se no
cérebro, ossos e fígado, induzindo efeitos fisiológicos
sub-letais, traduzidos por disfunções neurológicas e
imunológicas, aumentando a mortalidade directa e
indirecta (aumento significativo do abate por caçadores
de patos contaminados).
A substituição dos cartuchos com bagos de chumbo por
bagos de aço, por exemplo, deve ser uma das prioridades
na gestão das zonas de caça às aves aquáticas.
Informação retirada do website http://www.confagri.pt |