Nome
comum: Javali
Outras designações: Porco-montês, javardo,
porco-bravo
Peso: 250 Kg macho, e 150 Kg a fêmea
Comprimento: 1 – 1,5 metros
Altura máxima do garrote: 1 metro
Mamífero
originário do Norte de África e sudoeste da Ásia. A sua
área de distribuição estende-se por quase toda a Europa
(à excepção das zonas mais a Norte – Islândia, Noruega,
Finlândia e das Ilhas Britânicas onde se extinguiu por
volta do século XIV), pela Ásia e pelo Norte de África.
Foi introduzido nos E.U.A. e Austrália (onde se tem
verificado com alguma frequência o cruzamento com outros
porcos, quer domésticos quer assilvestrados).
Nos últimos anos as suas populações têm aumentado
consideravelmente. A recente evolução das populações
ibéricas é um bom exemplo desta tendência, pois é comum
um pouco por toda a Península, mesmo nas zonas onde há
muito não era avistado. Nalguns países do Centro e Norte
da Europa onde se encontrava extinto, como a Suécia
(subsistindo apenas alguns indivíduos dentro de áreas
cercadas), podemos hoje encontrar algumas populações
selvagens.
Esta expansão foi resultado não só da mudança radical na
paisagem das zonas de montanha (de pastorícia extensiva)
e das zonas agrícolas europeias no geral, mas também
devido à sua elevada adaptabilidade a novas condições, à
sua biologia reprodutiva (espécie prolífica) e
alimentar, à maior disponibilidade de alimento nas zonas
agrícolas e à diminuição das populações dos seus
principais predadores, como o lobo, Canis lupus, o
lince, Lynxsp., e a águia-real, Aquilla chrysaetos.
O êxodo de grande parte da população rural para as
grandes cidades, conduziu ao abandono progressivo das
práticas agrícolas ancestrais e a uma diminuição do
número de cabeças de gado, causando mudanças drásticas
no uso do solo e na estrutura da vegetação (muitas vezes
tornando-se mais favoráveis para o javali).
O javali foi desde sempre um troféu bastante apreciado
pelos caçadores, e actualmente, graças ao aumento das
suas populações, é uma das principais, senão mesmo a
principal, espécie de caça maior de muitas regiões
europeias.
Em Portugal é comum em quase todo o território
continental, e na Madeira existe uma população
resultante do cruzamento entre o javali e o porco
doméstico.
Pertence à família dos suídeos. Tem pêlo acastanhado
quando adulto, e os juvenis são listados, de preto e
castanho-amarelado (protecção contra predadores –
mimetismo), escurecendo com a idade. Nos adultos o pêlo
é forte e costuma partir nas pontas, e podem ser
considerados dois tipos de pêlos, uns mais rijos, as
cerdas e outros mais macios.
Pode viver entre 20 a 25 anos, embora no estado selvagem
não costume viver tanto tempo.
É essencialmente de hábitos nocturnos, podendo ser
avistado com maior frequência ao nascer e ao fim do dia.
Na altura da reprodução, ou quando existe fraca
disponibilidade alimentar, são mais facilmente
observáveis, pois os animais são obrigados a percorrer
maiores deslocações.
Tem na maxila superior dois dentes salientes que se
costumam designar por “amoladeiras”, enquanto na
inferior possui dois dentes, ainda de maiores dimensões,
as navalhas (razão para a designação de “navalheiros”
dos grandes machos).
De compleição forte, de perfil afilado, com membros
forte e bastante ágeis. Os machos adultos podem chegar
aos 250 Kg, enquanto as fêmeas não ultrapassam em média
os 150 Kg. Os animais do Norte da Europa tendem a ser
maiores e mais pesados do que os do Sul do Continente. O
dimorfismo sexual (traduzido por uma diferença de
tamanho entre o macho e a fêmea e pela dimensão dos
dentes) é maior nas classes etárias mais velhas (mais
acentuado a partir dos dois anos).
Nas nossas latitudes a gestação dura cerca de quatro
meses, nascendo as crias entre Fevereiro e Abril (com um
pico de ocorrência em Março). Uma fêmea pode ter 8 a 10
leitões, embora o número médio se situe entre os 3 a 6,
sendo a ninhada maior nas populações do Norte da Europa.
A fêmea esconde normalmente a sua ninhada em zonas de
densos matagais.
As diferenças na fertilidade das fêmeas, traduzidas no
tamanho da ninhada, podem ser explicadas não só por
factores fisiológicos da própria fêmea, pois as fêmeas
reprodutoras são normalmente maiores que as não
reprodutoras e pela idade das fêmeas (normalmente as
primeiras ninhadas são sempre menores), mas também pela
densidade populacional, pelo fotoperíodo e pela
qualidade e disponibilidade de alimento.
Pensa-se que os nascimentos estarão condicionados pela
ocorrência de condições climatéricas extremas. Assim, em
locais de fortes nevões e baixas temperaturas, de
Inverno mais rigoroso as crias nascerão entre Abril e
Junho, enquanto nas zonas com estação seca bem marcada e
prolongada, como a Península Ibérica nascerão o mais
cedo possível, no começo da Primavera, aproveitando os
novos rebentos.
Em zonas de elevada disponibilidade de alimento e com
Inverno ameno, os nascimentos podem ocorrer mais cedo.
No caso de se fornecer alimentação artificial, os
nascimentos podem começar em Dezembro e durar até Junho
(havendo alguns registos de nascimentos entre Novembro e
Março).
É omnívoro, sendo a sua lista de alimentos grande e
diversa. Os alimentos de origem vegetal são a base da
sua dieta, que pode ser composta por plantas (ou parte
delas), frutos (como a castanha, as bolotas e
azeitonas), insectos, moluscos, pequenos mamíferos, aves
(ovos) e, por vezes, carne em decomposição. A componente
animal é sempre menor que a vegetal, e complementa esta,
pois é rica em proteínas.
No geral, o javali come o que estiver mais disponível,
tendo no entanto preferência por alimentos ricos, como
os frutos e algumas plantas agrícolas. A sua alimentação
varia de local para local, e durante o tempo. Esta
variação parece ser o reflexo de diferentes
disponibilidades de alimento.
Em resumo podemos dizer que em resposta às variações
espaciais e temporais na variabilidade e abundância de
alimento, o javali come aquilo que o meio lhe oferecer,
empreendendo por vezes grandes deslocações (que podem
chegar aos 250 Km) para encontrar o alimento que deseja,
e aqui reside talvez uma das principais razões para o
sucesso desta espécie.
Por se alimentar de plantas agrícolas, é responsável por
danos avultados na produção agrícola. Contudo, uma boa
parte dos estragos são resultado do atropelamento e
destruição quando se desloca e quando desenterra as
plantas para se alimentar das raízes. Os estragos
atingem maior dimensão na Primavera e Outono, e são
ainda maiores quando existe menor quantidade de frutos
silvestres.
Assim, a disponibilidade de alimento é um dos factores
chave para a dinâmica populacional do javali e para o
sucesso reprodutivo.
A importância da alimentação advém do facto desta ser
essencial para a manutenção do bom estado físico dos
animais. Este pode ser avaliado pelo Índice de Condição
(IC) e/ou pelo Índice de Gordura Renal (IGR).
O IC dá-nos uma relação entre o peso e o comprimento do
animal, e foi definido tendo em conta o facto das
variações de peso estarem relacionadas com o estado
nutricional, permitindo desta forma avaliar a condição
física do indivíduo. O IGR quantifica as reservas
energéticas acumuladas (método bastante usado para os
cervídeos).
Em relação à variação do IC ao longo do ano, podemos
dizer que, de uma forma geral, ele diminui, tanto nos
machos como nas fêmeas, do Inverno até ao Verão (altura
em que são verificados os valores mínimos) começando a
aumentar outra vez no Outono. Assim, os javalis
apresentam melhor estado físico na no início da altura
reprodutora (acasalamentos) e na altura dos nascimentos.
Vários estudos na Europa sobre preferências alimentares
e sobre os danos na agricultura, apontam para uma
preferência pelo milho (Zea mays), sendo também a
cultura em que se verificam os maiores prejuízos. Os
estragos assumem também proporções consideráveis em
vinhas (embora neste caso fruto de destruição enquanto
procura por raízes e rebentos tenros) e nos cereais. Em
pastagens, onde o javali procura invertebrados,
revolvendo a terra, foçando, deixando marcas bem
características, os estragos são de maiores dimensões em
zonas de pastagens melhoradas, mais comuns no Norte e
Centro da Europa, do que em regiões de pastagens
naturais, como é o caso Mediterrânico). Há também
registos de danos em arrozais.
Estes estudos sugerem ainda que a disponibilização de
suplemento alimentar, provoca desequilíbrios na
alimentação dos javalis, pois normalmente são fornecido
alimentos ricos em energia, a que os danos nas culturas
agrícolas sejam maiores, pois os javalis vão procurar
com maior insistência alimentos ricos em proteínas
nestas áreas (normalmente em pastagens).
Por forma a evitar danos, podem ser usadas redes
eléctricas, avisos odoríferos, sonoros ou visuais, e
obstáculos físicos. O javali pode também constituir uma
ameaça para alguns vertebrados, principalmente para as
aves que fazem ninho no solo (quer por destruição de
ninhos, consumo de ovos ou juvenis) e mesmo em alguns
roedores. Na bibliografia disponível sobre o assunto são
relatados os casos da galinhola (Scolopax rusticola), do
faisão (Phasianus colchichus) e do coelho (Oryctolagus
cuniculus) (em França), e na Península Ibérica a perdiz
(Alectoris rufa), a lebre (Lepus capensis) e o coelho.
Este efeito será tanto maior quanto maior a densidade de
javali.
Existem também alguns registos de mortes de animais
domésticos (embora com pouca expressão). A relação entre
esta espécie e o Homem nunca foi pacífica, e o problema
do cruzamento com porcos domésticos, a transmissão de
doenças aos animais domésticos e os estragos na
agricultura têm contribuído para que as queixas contra
este animal aumentem.
As densidades de javali são normalmente da ordem dos 10
animais por 100 hectares. A sua área de acção (não é um
território no sentido normal, pois não existem
marcações) pode variar entre os 4 e os 22 Km2, e em
zonas de caça pode chegar aos 26 Km2. Apesar de não
demarcarem um território, parecem ter preferência por
certos locais de dormida (descanso ou reprodução) que
mantém ao longo de vários anos.
A proporção de machos e fêmeas é de cerca de 0,8 – 1:1,
pois há uma tendência para existirem mais fêmeas que
machos, pois este têm uma mortalidade elevada até aos 4
anos de idade, devido à maior competição entre machos
adultos e os mais jovens (estes são expulsos assim que
atingem a maturidade e podem mesmo ser mortos) e à
dispersão destes em busca de novos territórios.
Contudo, a razão entre machos e fêmeas varia consoante a
classe etária. Considerando apenas os indivíduos com
idade inferior a 1 ano, a razão entre machos e fêmeas é
de sensivelmente 1:1 (como nos mamíferos em geral),
enquanto nas classes mais velhas o número de fêmeas
tende a ser ligeiramente mais elevado (1:1,5 – 2).
A dificuldade de se calcular com maior exactidão este
valor prende-se com o facto de a grande maioria dos
dados dizer respeito a métodos de captura que tendem a
preferenciar uma das classes (a recolha de dados tendo
em conta o resultado da actividade cinegética, não nos
dará resultados sobre a classe etária inferior a um ano,
e se usarmos armadilhas, teremos uma maior proporção de
jovens do que adultos).
Para manter a sua pele livre de parasitas costuma tomar
banhos de lama (chafurdar) em locais que podem
facilmente ser identificados, roçando-se de seguida nas
árvores próximas.
Anda normalmente em grupos, constituídos pela fêmea e
sua prole. Estes grupos (varas) são normalmente
liderados por uma fêmea, que pode ser acompanhada também
por outras fêmeas reprodutoras, embora apenas a líder
procrie. Podem também pertencer às varas um ou dois
machos mais jovens. Estes abandonam o grupo quando
atingem a idade sub-adulta (normalmente expulsos pela
fêmea reprodutora ou pelo macho dominante), podendo
juntar-se a um macho mais velho (solítário) passando a
designar-se por escudeiros. Contudo, os grandes machos
passam a maior parte do tempo sozinhos.
É uma espécie bastante apreciada pelos caçadores,
constituindo uma fonte de rendimentos importante em
muitas zonas. Um grande macho é um troféu importante.
A carne de javali é também muito apreciada (pois tem
menos gordura, quase não tem colesterol e é bastante
rica em proteínas e sais minerais), sendo a sua criação
para consumo directo uma actividade que vai crescendo de
importância. Este tipo de actividade tem alguns
constrangimentos, como a menor taxa de ganho de peso, a
baixa taxa reprodutiva (quando comparada com outros
animais domésticos) e a dificuldade de obtenção de
animais puros. O nosso conhecimento sobre o modo de
criação deste animais em cativeiro tem dificultado a sua
exploração.
A gestão das sua populações assume importância
fundamental, pois pode dar um contributo importante para
a manutenção do tipo de zonas florestais mediterrâneas
que também lhes são favoráveis, mas também conservando o
habitat de outras espécies com maior risco de extinção
(como a águia-imperial, Aquila adalberti).
Ao gestor cinegético cabe a escolha do número de acções
cinegéticas, e de caçadores e cães que nelas participam,
de modo a que a pressão cinegética seja adequada à
dimensão e estrutura da população a gerir. É necessário
ter sempre em mente a necessidade de garantir bons
resultados na época de caça, mas também nas do futuro,
pois não podemos por em risco o potencial reprodutivo
das populações de javali quer em quantidade quer em
qualidade dos troféus produzidos.
O combate ao furtivismo, actividade que tem um grande
impacto nas nosso dias nas populações selvagens desta
espécie, assume também uma relevância grande, e,
infelizmente, temos de disponibilizar mais meios para a
erradicação dessa prática, apostando não só na
fiscalização mas também na prevenção.
Informação retirada do website http://www.confagri.pt |