Coelho bravo
Nome comum: Coelho-bravo
Nome científico: Oryctolagus cuniculus
Peso: 1,2 a 2 Kg
Comprimento: 35 a 50 cm
Fenologia: Residente
O coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) é uma espécie cinegética de pêlo, tradicionalmente muito apreciada pelos caçadores portugueses, tendo sido até meados do século XX uma das mais abundantes na Península Ibérica. O declínio das suas populações deve-se a múltiplos fatores, entre os quais:
- A disseminação de doenças como a mixomatose (anos 1960) e a doença hemorrágica viral (anos 1990);
- A competição com herbívoros de maior porte;
- A elevada densidade de predadores generalistas, especialmente a raposa (Vulpes vulpes);
- A ação humana e o abandono do uso tradicional do solo.
Original da Península Ibérica e do sul de França, a espécie expandiu-se amplamente devido à sua adaptabilidade e introdução em diversas regiões. Hoje encontra-se em toda a Europa, norte de África (com destaque para Marrocos e Argélia), Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Chile.
Em Portugal, está presente em todas as regiões do continente, bem como nos arquipélagos dos Açores e Madeira, onde foi introduzido. Um caso curioso é o da ilha de Porto Santo, onde a introdução do coelho em 1418 levou à devastação das plantações, contribuindo para o abandono da ilha em favor da Madeira.
A pelagem é pardo-acastanhada, mais escura na cabeça e dorso, com o ventre e a parte externa das coxas brancos. As orelhas, com 6,5 a 7,5 cm, são acinzentadas por fora e mais claras por dentro. A cauda é cinzento-acastanhada em cima e branca em baixo. As patas traseiras, longas e fortes, têm riscas brancas e unhas afiadas, essenciais para escavação e fuga rápida.
A espécie não apresenta dimorfismo sexual evidente. Apenas a observação dos órgãos sexuais permite distinguir machos e fêmeas, sendo estas geralmente maiores e mais pesadas.
O coelho-bravo é sociável, vivendo em colónias e construindo tocas comunitárias com sistemas de túneis interligados e múltiplas entradas. A localização das tocas depende de fatores como tipo de solo, relevo, vegetação e disponibilidade de alimento e água. Prefere áreas com arbustos altos e próximas de árvores, cujas raízes estabilizam o solo.
As tocas de parto são construídas pelas fêmeas a 50 cm a 1 metro de profundidade, forradas com ervas, folhas secas e pelos do ventre da progenitora. Os láparos (criaseguintes ao nascimento) permanecem nessas tocas durante 19 a 21 dias. Tornam-se adultos cerca de seis meses após o nascimento.
Além das tocas principais, o coelho-bravo utiliza tocas de recurso perto das áreas de alimentação, bem como locais ao ar livre para descanso ao sol.
Possui excelente audição e olfato, mas visão frontal limitada. Permanece frequentemente em alerta, erguendo-se nas patas traseiras e batendo com elas no chão para alertar a colónia em caso de perigo.
O macho domina o território da colónia e é poligâmico. A reprodução ocorre ao longo do ano se as condições forem favoráveis, com maior intensidade de janeiro a maio. Em média, uma fêmea tem entre 3 a 5 ninhadas por ano, com 1 a 7 láparos cada. Assim, uma fêmea pode gerar 15 a 20 láparos por ano. Uma população saudável pode multiplicar-se entre 3 a 6 vezes anualmente.
O ciclo reprodutor é regulado pelo fotoperíodo e pela disponibilidade alimentar. A rebentação das plantas no fim do outono marca o início da reprodução, que termina com o aumento das temperaturas e a redução de alimento.
O coelho-bravo é um herbívoro oportunista, alimentando-se de rebentos, folhas tenras, gramíneas e dicotiledóneas. Come cereais verdes nas zonas agrícolas e, em épocas de escassez, consome raízes e cascas de árvores. Retira a maior parte da água necessária dos alimentos suculentos e do orvalho, raramente bebendo água.
Evita zonas húmidas e não é encontrado acima dos 1200 metros de altitude. É sensível ao frio e à chuva, e as tocas podem ser inundadas, provocando mortalidade dos láparos.
O uso do coberto varia com o risco de predação: em dias de sol, refugia-se em vegetação densa para evitar aves de rapina; à noite, prefere áreas abertas para detetar predadores terrestres.
Prefere habitats com alimento abundante e vegetação protetora, nomeadamente mosaicos de paisagem com matos, pastagens e campos agrícolas. A sua movimentação é geralmente curta, com maior atividade durante a noite.
Apesar da sua elevada taxa de reprodução, as populações ibéricas têm diminuído, sobretudo devido à mixomatose e à doença hemorrágica viral. A primeira ocorre sobretudo entre junho e setembro e transmite-se por contacto direto ou por insetos. A segunda, mais comum no outono e inverno, transmite-se também por via aérea.
As medidas de profilaxia incluem vacinação (a aguardar aprovação generalizada), remoção de animais mortos, destruição de tocas infetadas, controlo de insetos e criação de tocas artificiais em locais secos.
Quando a população é excessiva, o coelho-bravo pode tornar-se praga, causando prejuízos agrícolas e florestais. Alimenta-se de rebentos e pode afetar a regeneração vegetal. O seu impacto na vegetação depende da densidade populacional e pode provocar alterações ecológicas profundas.
É a base alimentar de muitos predadores ibéricos, incluindo espécies ameaçadas como o lince-ibérico (Lynx pardinus) e a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti). É também predado por raposas, saca-rabos e javalis, bem como necrófagos como o abutre-do-Egipto, que se alimentam de indivíduos doentes ou mortos.
Uma gestão adequada da espécie deve incluir:
- Controlo de doenças (remoção de animais mortos, desinfeção de tocas);
- Alimentação suplementar em qualidade e quantidade;
- Criação de tocas artificiais em locais secos;
- Controlo legal de predadores generalistas em áreas de repovoamento;
- Redução do impacto de cães e gatos domésticos;
- Gestão racional da pressão cinegética, com base em censos e planos anuais;
- Repovoamentos bem planeados, com quarentena, vacinação e escolha adequada da origem dos indivíduos.
O estudo da dinâmica populacional é essencial para uma gestão eficaz. A recuperação do coelho-bravo é vital não só para a caça e para a economia rural, mas também para a conservação de todo o ecossistema mediterrânico.
Informação retirada do website http://www.confagri.pt


